Me incomoda a ideia do que serei na sua vida daqui a alguns anos. O que sobrará de mim aí quando enfim essa loucura acabar. Não estarei lá no dia da sua formatura, não serei a moça que você irá jurar em um altar amor eterno, não serei eu que estarei lá na sua primeira promoção de trabalho, não irei passar viradas de ano ao seu lado, não será comigo que irá planejar as viagens de fim de ano. E se não terei nenhum papel importante na sua vida, então quem serei daqui a alguns anos para você?
Talvez seja uma leve lembrança, a moça do namorico no fim do ensino médio. Aquela que escrevia demais, e talvez você até lembre o meu nome, ou não. Afinal isso não irá importar muito. Talvez leve algo, e esse algo permaneça em você durante um bom tempo, e do nada um dia após deixar um filho na escola e antes de chegar ao trabalho, ali em um trânsito maçante esse algo apareça, e você pense: “Nossa, por onde anda aquela menina?”
Talvez uma colega de trabalho tenha o mesmo nome que o meu, ou tenha a mesma forma embaraçada de lidar com as palavras ditas. Talvez no fim do último semestre você até tenha noticias minhas, e saiba por um dos seus amigos que andei perguntando por você.
Talvez eu seja um daqueles casos engraçados que você irá contar aos seus netos, junto com o caso da moça da lanchonete e com o caso da garota do 4° semestre. E no fim irá sorrir e dizer “juro que foi antes da avó de vocês”. E eu não me importo em ser a história engraçada da garota que amava demais, uma história de passatempo contada a crianças curiosas, desde que eu seja algo.
Quanto tempo falta para que essas dúvidas virem certezas? Para não nos reconhecermos em uma rua lotada, para apagarmos nossos números da lista de contato, para esquecermos o nome um do outro? Porque no fundo sabemos que essa história nasceu destinada a findar. Que por si só não poderia durar. Então, quanto tempo ainda nos resta?
E.S